terça-feira, 15 de julho de 2008

Branca e De-li-ca-da


Passos e mais passos.Maria Estela corria atônita pelas ruas frias do Bixiga, sua vida toda passava pela mente em imagens convulsas, amor e ódio, o passado que ela viu secar sua juventude,seu presente vazio como um deserto.E pra não ficar pior sua única esperança era reencontrar a melhor amiga do tempo de colégio, sua primeira namorada.

Sentada numa guia de calçada ela esmiuçava em olhar febríl os pequenos prédios a sua frente, na esperança de lembrar qual era exatamente o mesmo de dez anos atráz.Horas passadas, já em posição de poste, Maria Estela como que erguendo a mão, recordava da flor que recebeu da amiga, como uma melodia sinuosa, como se estivesse de volta ao último dia em que ela veria a amiga, embora pensassem ser o primeiro de uma vida inteira.

"-Toma uma flor pra você.É como lhe enxergo, branca
e de-li-ca-da.
-Não Lana, não quero, eu não sou assim, você sabe,eu tenho espinhos, espinhas, guarda ela pra você, faz de conta que eu te dei, ela é sua e em sua mão fica mais bonita.Eu me conforto em ficar aqui e dançar como um cisne pra você."
A rua de paralelepido recebia os passos e passos leves de Maria que um dia voltariam sofridos de tanto correr.
"Aceite, aceite a flor estela, a colhi ainda cedo pra ti, e não esqueci sequer um instânte no dia
de que a traria para você.Por mim aceite, ela é o fundo da minha alma, que apesar de ser minha, agora vive pra ti."
As duas num abraço extenso, sentiam toda a imensidão
do mar, e aquele sentimento tão profundo as cobriam de lágrimas e os perfumes de seus suores, e o perfume de seus perfumes.Era a liberdade.Não a de poder ir a qualquer lugar apesar de saber que juntas iriam, nem aquela do primeiro beijo, primeiro abraço, mas aquela do amor chorado.Onde a alma encontra o espírito, o corpo encontra a coragem, os passos e passos encontram seu destino, e o destino se propõe a ser fiel a cada dia.